domingo, 10 de maio de 2009

Lola

Sabia, gosto de você chegar assim arrancando páginas dentro de mim, desde o primeiro dia.
Sabia, me apagando filmes geniais, rebobinando séculos os meus velhos carnavais, minha melancolia.
Sabia, que você ia trazer seus instrumentos, invadir minha cabeça, onde um dia tocava uma orquestra, pra companhia dançar.
Sabia, que ia acontecer você um dia e claro que já não me valeria nada tudo o que eu sabia, um dia.
Francisco Buarque de Hollanda

domingo, 3 de maio de 2009

Lola

Olhou rapidamente para o relógio e marcava exatamente 12h36, chegou à conclusão de que não seria mais possível estar na faculdade em tempo de assistir a última aula. Revirou sua bolsa em busca de nada muito específico, achou seu iPod, iria ao parque, correr: era a melhor coisa a fazer em um momento como este: colocar suas ideias em ordem, clarear sua mente, para por fim, pensar direito. Tateou ao seu redor para achar a chave do carro, já estavam na ignição. Percebeu que suas mãos tremiam, respirou fundo, deu a partida e saiu. Segurava cada vez mais forte suas mãos contra o volante, o sol atingia seu rosto através do vidro e queimava levemente sua pele, o radio tocava baixo, como se sussurrasse calmamente a melodia daquela música que tantas vezes a tinha acalmado, ela tentou lembrar se tinha fechado as janelas de casa. Será que poderia chover? Balançou a cabeça como se tentasse apagar aquele pensamento. Havia chegado. Sentada agora no sofá, depois de aproximadamente duas horas correndo, percebeu que já eram 7h da noite. Não conseguia calcular exatamente quanto tempo havia se passado desde que recebera a notícia, sabia, apenas, que já havia se passado um bom tempo e mesmo assim não conseguia aceitar, GRÁVIDA?! Não era possível! Uma criança era responsabilidade demais e ela tinha apenas 23 anos. Estava em seu terceiro ano da faculdade! Precisava falar com Antonio. Seus olhos começaram a ficar pesados, se sentia sonolenta, tentou manter-se acordada, quando finalmente desistiu, colocou sem perceber a mão sobre sua barriga e adormeceu. Quatro meses. Seria possível ter passado tanto tempo assim? Mariana estava deitada em sua cama e já era 13h. Como era possível ainda sentir tanto sono, tinha ido dormir às 23h! Por um minuto achou que estava enlouquecendo, mas este pensamento não conseguiu durar por muito tempo, ali vinha o primeiro enjôo do dia. Saiu correndo para o banheiro, quase tropeçando no caminho, mas sua aflição era tão grande que conseguiu seguir em frente. Vomitou. Um bom tempo havia se passado, mas ela não conseguia se acostumar em ter de sair correndo para o banheiro mais próximo toda vez que sentia o cheiro de qualquer comida diferente, ou quando passava pela frente do rio Tiête. Talvez não fosse mesmo. Era tudo culpa daquela criança. Maldita hora que engravidara! Ouviu seu celular tocando, era Antônio. Ele estava ligando provavelmente para confirmar a hora que iria levá-la ao médico. Levantou, deu a descarga, andou até o celular e atendeu. Os dois combinaram de se encontrar em uma hora na frente do consultório. Iria descobrir o sexo do bebê, mesmo que contra sua vontade. Abriu o armário, olhou de uma ponta até a outra e... Nada. Sua barriga tinha crescido o suficiente para não caber mais em suas calças jeans, portanto, resolveu colocar um vestido. O trânsito estava favorável, ou seja, contra ela. Não tinha desculpa para chegar atrasada ou até não ir à consulta. Ao virar a esquina do estacionamento viu Antônio acenando. Seus olhos azuis e seus cabelos castanhos brilhavam na luz. Antônio era seu amigo mais antigo, mas não era o pai do bebê. Os dois se conheceram na terceira série do ensino fundamental quando eram apenas duas crianças, com o passar dos anos essa amizade havia crescido e se tornado sólida. Era ele quem ia ao médico com ela, quem havia dado a primeira roupa para a criança; um pijama amarelo, unissex como ele mesmo dizia. Estacionou o carro, desceu. O sorriso na cara do amigo era animador para um momento como aquele, os dois se cumprimentaram e entraram para a consulta. Olhava, agora, aquelas mães com suas crianças, elas pareciam tão felizes, realizadas, tão... Completas. Será que com ela seria assim? Seria uma boa mãe para aquele bebê? Sentiu um frio na barriga, medo. De repente, uma voz chamou 'Mariana de Souza, por favor, encaminhar-se para a sala de Ultra-som'; ainda um pouco perdida em seus pensamentos, se levantou: era sua vez. Seus passos pareciam pesados. Mariana estava nervosa, não sabia ao certo se queria saber o sexo da criança. Por um momento hesitou naquele corredor não muito convidativo: era escuro, gelado. Sentiu a mão de Antônio empurrando suas costas de leve e voltou a andar. Aquele gel era para ser tão desconfortavelmente gelado daquela maneira? A médica olhava para a tela do computador enquanto passava um aparelho em sua barriga. 'Ai, como isso é gelado!' era tudo que a garota conseguia pensar naquele momento. Algo começou a fazer barulho. Era um pouco estranho, mas naquele exato momento soou como a melodia mais bonita já existente. Naquele segundo nenhuma música do Tom Jobim, Chico Buarque e nem a voz de Elis Regina precisavam existir, era necessário apenas aquela lenta batida de coração vinda de dentro de sua barriga. A médica chamou sua atenção, enquanto apontava para o monitor. Era seu bebê, uma menina. Ela sentiu uma lágrima escorrer e a limpou rapidamente. Estava chorando. Mas... Como? Antônio colocou a mão em seu ombro e ela o abraçou. Por um bom tempo eles ficaram lá, sem malícias, palavras ou lágrimas; apenas ali, os três abraçados em silêncio: que pela primeira vez não lhe parecia tão assustador. Os meses se passaram e cada vez os enjôos diminuíam. Em compensação, mais dores nas costas, na cabeça, menos roupas que ajustassem à sua barriga, sua capacidade de abaixar para pegar coisas no chão e de manter sua bexiga vazia haviam se tornado 'zero'. Os desejos... Ah! Os desejos. Comidas de todos os tipos, os mais estranhos. Durante os últimos meses não havia sido apenas seu corpo que havia mudado drasticamente. Seus seios eram maiores, não tão grandes como sua barriga, mas isso não era o principal; sua mente tinha mudado demais. Hoje não era mais a garotinha mimada de oito meses atrás, era uma nova mulher e pensando, agora, era uma ótima definição: mulher era o que tinha se tornado. O último mês de sua gravidez passou lentamente, e ao mesmo tempo voando na frente de seus olhos. Sua pequena menina parecia estar em festa na esperança de sair para ver o mundo; chutava como uma louca.As contrações iam ficando mais fortes e intensas à medida que chegava mais perto do hospital. Ela e Antônio tinham preparado tudo: quarto reservado, o nome escolhido, malas prontas... Finalmente, o hospital. Ela teria sua filha, iria se tornar... Mãe. Até que soava bem. O parto foi doloroso mesmo com a anestesia. No final de tudo ela estava suando, vermelha. O médico foi limpar a criança, enquanto Mariana era levada para seu quarto. Os minutos de espera foram os mais longos de sua vida, mas quando finalmente a teve em seus braços, seus olhos debulharam em lágrimas, seu coração batia na maior velocidade. Parecia que a felicidade ia transbordar! Aquela era sua filha, sua Lola. Enquanto balançava a garotinha em seus braços e cantava: 'Sabia, gosto de você chegar assim, arrancando páginas dentro de mim, desde o primeiro dia', o mundo parecia ter simplesmente sumido, junto com as pessoas e os barulhos. De agora em diante seriam sempre Mari e Lola.

Corcovado

Um cantinho e um violão, esse amor, uma canção, pra fazer feliz a quem se ama. Muita calma pra pensar e ter tempo pra sonhar, da janela vê-se o Corcovado, o Redentor que lindo. Quero a vida sempre assim com você perto de mim, até o apagar da velha chama. E eu que era triste, descrente deste mundo, ao encontrar você eu conheci, o que é felicidade, meu amor. (Antônio Carlos Brasileiro Jobim)

quinta-feira, 30 de abril de 2009

música

Se me perguntassem eu não poderia dizer que me lembro da primeira vez que escutei música. Mas posso afirmar, que música sempre foi uma coisa muito presente na minha vida, todos os fins de semana, Tom Jobim, Elis Regina, Caetano Veloso, Marisa Monte e principalmente Chico Buarque. Todos estes nomes que citei, e muitos outros, tem uma mágia especial, que me fizeram ficar apaixonada por esse tipo de música chamada MPB. Hoje, conheço milhares de outros tipos músicais, criei meu proprio repertório, gosto de Beatles, Guns N'Roses, Led Zeppelin, McFly, Rolling Stones, The Clash, The Who, Oasis, Billie Paul, Bob Dylan e muitoos outros. Aprendi a não ligar para o que as pessoas consideram música boa, ou ruim, porque de verdade, quando se trata de música, não existe bom ou ruim, mas apenas gostos músicais. Ao aprender a tocar violão e piano, a música se tornou inevitavel na minha vida, é a única coisa que pode realmente me reanimar. Escutar música, faz bem para qualquer um, não é necessário conhecer ou tocar algum instrumento para poder apreciar escutar, qualquer tipo de música. Um dia desses cheguei a conclusão de que música; é a melhor invenção humana.

I see you, you see me

I never wanted to love you, but that's okay. I always knew that you'd leave me anyway. But darling when I see you, I see me. I asked the boys if they'd let me go out and play, they always said that you'd hurt me anyway. But darling when I see you, I see me And it's alright, I never thought I'd fall in love again It's alright, I look to you as my only friend It's alright, I never thought that I could feel there's something Rising, rising in my veins, looks like it's happened again I never thought that you wanted for me to stay, So I left you with the girls that came your way, And darling when I see you, I see me. I often thought that you'd be better off left alone, why throw a circle round a man with broken bones. But darling when I see you, I see me It's alright, I never thought I'd fall in love again. It's alright, I look to you as my only friend It's alright, I never thought that I could feel there's something Rising, rising in my veins, looks like it's happened again. You always looked like you had something else on your mind, when I try to tell you, you tell me "nevermind". But darling when I see you, you see me I wanna tell you that I never loved anyone else, you wanna tell me that you're better off by yourself. But darling when I see you, you see me Oooh, oo-oo-oooh... This is not what I'm like, this is not what I do This is not what I'm like, I think I'm falling for you This is not what I'm like, this is not what I do This is not what I'm like, I think I'm falling for you I never thought, this is not what I'm like, this is not what I do I never thought, this is not what I'm like, I think I'm falling for you I never thought that I could feel there's something Rising, rising in my veins and it looks like I feel there's something Rising, rising in my veins, looks like it's happened again (The magic numbers)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Talvez elas fossem daquela maneira, apenas por causa de laços famíliares, mas para mim aquelas seis tinha uma ligação mais forte ainda. As idades com certeza faziam bastante diferença; 21, 18, 15, 14, 11, 7. Elas tinha suas implicancias, já tinham brigado muito no passado, mas também tinham uma vida inteira compartilhada, noites de natal à espera do Papai Noel, manhãs frias de Páscoa procurando os ovos de chocolate pela casa, tantos aniversários, tinham literalmente crescido juntas .Hoje a menina só não conseguia imaginar como seria chegar em casa em uma véspera de feriado sem estar feliz de saber que nos próximos dias estaria perto de suas primas. Elas eram em seis e somando as qualidades e defeitos de cada uma; eram simplesmente a combinação perfeita.

Tom Jobim, NY - outubro 89

' chico buarque meu herói nacional, chico buarque gênio da raça, chico buarque a salvação do brasil. a lealdade, a generosidade, a coragem. chico carrega grandes cruzes, sua estrada é uma subida pedregosa. seu desenho é prisco, atlético, ágil, bailarino. Let's dance! Eterno, simples, sofisticado, criador de melodias bruscas, mítidas, onde a vida e a morte estão sempre presentes, o dia e a noite, o homem e a mulher, tristeza e alegria, o modo menos e o modo maior, onde o admirável interprete revela o grande compositor, o sambista, o melomano iventimo, o criador, o grande artista, o poeta maior Francisco Buarque de Hollanda, o jogador de futebol, o defensor dos desvalidos, dos desatimados,das crianças que só comem luz, que mexe com os propotentes, que discute com deus e mora no coração do povo. chico buarque homem do povo, calça Lee, carradas de razão mamão, jacarandá, surubim, macuco não pierrot e arlequim você é tanta coisa que nem cabe aqui Inovador, preservador, reincarnado, rediviva mestre da língua cabelos negros olhos gleucos, luminosos teu sorriso inesquecível ó Francisco, nosso querido amigo tuas chuteiras caminham numa estrada de pó e esperança '